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Cultura

Projeto “Um pé de livros” é iniciado na UFTM

Publicado: Quinta, 19 de Outubro de 2017, 16h49

Foi realizado na tarde da última quarta-feira,18, no Auditório Rubi da UFTM na Univerdecidade, o lançamento do projeto “Um pé de livros”, que promoverá a livre circulação de diversas obras das literaturas brasileira e estrangeira por pontos de leitura instalados em Uberaba e também em Iturama. O lançamento do projeto contou com a presença da reitora da UFTM, Ana Lúcia de Assis Simões, e foi conduzido pela equipe do Centro Cultural da UFTM. A solenidade de lançamento contou com uma programação cultural com varal de poesias e cordéis produzidos por alunos do curso de Licenciatura em Educação no Campo e ainda com uma homenagem à Biblioteca Literária que deu origem ao acervo que será utilizado no projeto.

O projeto “Um pé de livros” nasceu do acervo da antiga Biblioteca Literária anteriormente instalada no Hospital de Clínicas da UFTM. A Biblioteca Literária foi montada por servidores da instituição que começaram a reunir um acervo literário por meio de doações de livros pessoais e também vindos da comunidade com o objetivo de promover a difusão do conhecimento à população. Os anos se passaram e, hoje, este acervo conta com mais de seis mil livros.  Recentemente, com a nova estrutura do Centro Cultural foi desenvolvido o projeto “Um pé de livros” que oferece uma nova abordagem para a distribuição do acervo para a comunidade.

De acordo com a reitora da UFTM, Ana Lúcia de Assis Simões, a nova abordagem dada para a distribuição do acervo irá ampliar as ações culturais na UFTM, o projeto de leitura implementado anos atrás renderá novos frutos. “Os maiores usuários dessa biblioteca foram os trabalhadores do Hospital de Clínicas que procuravam os livros no Centro Cultural. Com a evolução da nossa instituição, a transformação em universidade, a questão da cultura precisa ser potencializada, precisa ser ampliada, mais divulgada e nós temos feito um trabalho no sentido de proporcionar melhores condições para que as atividades de cultura prosperem na nossa instituição. Um dos nossos desafios era revitalizar a Biblioteca Literária, trazer novas possibilidades de circulação desses livros, pensando na possibilidade de melhorar a oferta desse serviço. A equipe do Centro Cultural teve a brilhante ideia de transformar a Biblioteca Literária no projeto “Um pé de Livros” e só tenho que parabenizar pela proposta criativa e inovadora, mas principalmente pelo cuidado com a preservação dessa história, com o resgate, e com o cuidado com as pessoas que ao longo de anos desenvolveram este trabalho. O que vemos aqui hoje é um renascer, uma proposta renovada, ampliada e agora com uma perspectiva de maior abrangência. O projeto foi valorizado e está  sendo perpetuado, mas agora sob uma nova roupagem e de uma forma mais abrangente”, destacou a reitora.

No "Um pé de livros" haverá, inicialmente, 14 pontos de leitura espalhados pela universidade e região, sendo eles: Centro Educacional; Campus I; Reitoria; Univerde; Hospital das Clínicas; Hemocentro; Complexo Cultural e Científico de Peirópolis; Iturama; Centro Cultural de Capoeira Águia Branca; ONG Casa do Menino; SINTE MED. Os interessados em participar do projeto poderão visitar as unidades onde estão os pontos de leitura e retirar um exemplar, levar para casa, repassar a um amigo ou doar outro no lugar. O Centro Cultural ficará responsável por fazer uma ronda periódica pelos pontos e por manter contato com os nossos parceiros para verificar a movimentação nas estantes. Também serão aceitas doações de livros da comunidade.

 

Ao final da solenidade de lançamento do projeto, foi realizada a contação de uma história produzida e apresentada pela professora da UFTM Tânia Halley e que conta a trajetória do projeto. Confira o texto:

Um Pé de Livros

Hoje vou lhes contar a história de uma árvore muito especial, conhecida como “Pé de Livros”. A história dessa árvore se parece com a história de muitos corações abraçados: são fortes e inabaláveis, mas também retorcidos como a volta de uma história. E com algumas raízes profundas e algumas cicatrizes...

Tudo começou com uma semente!

Era verão. Era só uma semente, um grão marrom embalado tipo para presente. Por fora não se nota o mundo que lá dentro mora. Sol, água e chão e assim a vida surge de dentro de um grão. Mas essas não são sementes quaisquer. São sementes especiais que cantam um segredo:

Caluê, caluê, dendê
Sem boca, cantamos pra você.
Caluê, caluê, dendê
Sem voz, falamos com você.
Caluê, caluê, dendê
Coração sem porta abre e ninguém vê...

Essa semente solitária, um dia foi encontrada por um senhor. Que mesmo sem conseguir escutar seu segredo cantado, procurou um pequeno espaço com terra boa e a plantou. Entre quatro paredes, a semente foi cuidada com muito carinho e encontrou espaço para germinar.

“Agora é broto, amanhã cresce e floresce, depois dá frutos e amadurece, nos da o ar para respirar, os frutos para nos alimentar.” – disse o bom homem que a plantou.

O broto de fato cresceu, se transformou em árvore frondosa. Encontrou outras pessoas para cuidar dela, para a cultivar: vieram Betes e Luízes que a regaram, adubaram, colhiam seus frutos e distribuíam a outras pessoas. Foram tantas Marias e Joãos que passaram a se alimentar de seus frutos, que sua fama se espalhou. Vinham pessoas de vários lugares provar seus frutos que diziam ter um sabor especial. Quem de seus frutos provava dizia sentir gosto de acalanto, conhecimento, alegria, saúde, inclusão, amizade, união, convivência, humanidade.

Sentados debaixo de seus frondosos galhos, as pessoas estavam tão entretidas com o sabor de seus frutos que ninguém conseguia escutar seu segredo sendo cantado por suas sementes:

Caluê, caluê, dendê
Sem boca, cantamos pra você.
Caluê, caluê, dendê
Sem voz, falamos com você.
Caluê, caluê, dendê
Coração sem porta abre e ninguém vê...

Todos vinham experimentar seus frutos. Todos encontravam horário para se deleitar com os deliciosos sabores. Alguns encontravam tempo no horário de almoço, outros entre uma consulta médica e outra, alguns depois do expediente do trabalho, muitos durante seus tratamentos de saúde.

Certo é que as sementes continuavam a cantar, na esperança que alguém escutasse seu segredo cantado:

Caluê, caluê, dendê
Sem boca, cantamos pra você.
Caluê, caluê, dendê
Sem voz, falamos com você.
Caluê, caluê, dendê
Coração sem porta abre e ninguém vê...

Feliz com movimento das pessoas que vinham de perto e de longe para saborear seus frutos, a frondosa árvore nem percebeu a chegada do outono. Quando se deu conta, já estava embarcando numa nova estação. As pessoas caminhavam num tapete das folhas e flores que caíam da linda árvore. Os caminhos pareciam cada vez mais se estreitar e a árvore teve uma sucessão de perdas, ou melhor, uma sucessão de trocas. E assim como toda pessoa que tem um coração pulsando, a árvore também ficou assustada demais com as mudanças. Mas mesmo assim, conseguiu perceber a beleza na nudez de cada um de seus galhos. Entendeu que estava apenas trocando de roupa. E percebeu que isso poderia multiplicar sua capacidade de cantar segredos.

Caluê, caluê, dendê
Sem boca, cantamos pra você.
Caluê, caluê, dendê
Sem voz, falamos com você.
Caluê, caluê, dendê
Coração sem porta abre e ninguém vê...

Concentrada em entender as trocas que aconteceram durante o outono, a árvore nem se deu conta que o inverno havia chegado.
Um frio de leve que vinha para ficar.
Uma brisa suave que fazia a árvore balançar.
O Vento soprava assobiando.
O céu escuro foi ficando.
As nuvens chegaram de mansinho e trouxeram com elas, a chuva devagarinho.
As pessoas que antes vinham até a grande árvore provar seus frutos, agora só se preocupavam em se proteger da chuva, debaixo de suas sombrinhas.
Solitária, nossa árvore foi ficando.
Em sua companhia restou apenas a noite escura e fria.
E o inverno, senhor de si, se aproximou com seu tom cinza, trazendo a solidão como esposa, passou como uma rajada de vento forte. Bateu a porta! Deixou nossa árvore trancada, sozinha e com frio.
Solitária e com medo, à árvore só restou a opção de continuar a cantar seu segredo.

Caluê, caluê, dendê
Sem boca, cantamos pra você.
Caluê, caluê, dendê                            (Bem fraco e tremendo de frio)
Sem voz, falamos com você.
Caluê, caluê, dendê
Coração sem porta abre e ninguém vê...

 

Mas eis que no meio do inverno, ela finalmente aprendeu que dentro dela havia um segredo incrível a ser cantado.
E todo esse outono e inverno deram a ela tempo para entender que ela havia perdido suas folhas, mas nunca suas raízes. Que o vento frio do inverno que a balança, também espalha seu perfume. Que ela passa pelas estações, mas que nem as estações podem matar suas sementes cantoras de segredo.
E foi então, que ela juntou todas suas forças e começou a balançar forte suas sementes que cantavam seu segredo-canção:

Caluê, caluê, dendê
Sem boca, cantamos pra você.
Caluê, caluê, dendê
Sem voz, falamos com você.
Caluê, caluê, dendê
Coração sem porta abre e ninguém vê...

E parece que seu canto embalado, iniciou o chamado pela primavera que timidamente surgiu por detrás das montanhas, com os primeiros raios solares.
A primavera trouxe consigo nova esperança. Renovação brotando nos galhos da árvore adormecida. Surgimento de flores com aromas deliciosos. O perfume de suas flores soprou longe, foi bater na porta de um novo morador do jardim.
Esse novo morador, atento, teimava em dizer para seus vizinhos que escutava uma música sendo cantarolada no ar.

Caluê, caluê, dendê
Sem boca, cantamos pra você.
Caluê, caluê, dendê
Sem voz, falamos com você.
Caluê, caluê, dendê
Coração sem porta abre e ninguém vê...

Tanto observou, tanto insistiu em sua intuição que em uma bela tarde, chegou até a fonte da música. Percebeu que a canção vinha de um velho quarto fechado e empoeirado. Abriu as portas e as janelas, deixou que os raios de sol adentrassem o ambiente e colorissem o inverno com a beleza da primavera.

Tamanha era sua sensibilidade que pode escutar as sementes da bonita árvore  cantar seus versos renovados:

Caluê, caluê, dendê
Sem boca, cantamos pra você.
Caluê, caluê, dendê
Sem voz, falamos com você.
Caluê, caluê, dendê
Coração aberto abre hoje para você.

Ele entendeu que as sementes precisavam de novo solo, nova morada. Compreendeu que aquela canção precisava ser espalhada. E por fim, se propôs a doar as sementinhas para que outras pessoas também pudessem se encantar como ele se encantara.

Percebam que a generosa árvore, mudou, mudou e nos dá ainda mais sementes para semear.

Caluê, caluê, dendê
Sem boca, cantamos pra você.
Caluê, caluê, dendê
Sem voz, falamos com você.
Caluê, caluê, dendê
Coração aberto abre hoje para você.

 

Fotos: Elioenai Amuy/UFTM 
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