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Inteligência Artificial na Medicina

Aluno do curso de Medicina ganha prêmio em São Paulo e firma parceria com HC da Usp

Publicado: Segunda, 30 de Setembro de 2024, 18h56

Tia Bete e seu papel de agente facilitador aos pacientes diabéticos 


Prédio da antiga Faculdade de Medicina; hoje Campus 1 da UFTM. Foto: Gustavo Miranda

 

Com o sol escaldante, em tempos de clima seco no Triângulo Mineiro, preferimos conversar embaixo das árvores localizadas na entrada do tradicional prédio da Faculdade de Medicina em Uberaba, o Campus 1 da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

Leonardo Scandolara Júnior, 25, é aluno do curso de Medicina da UFTM, com colação de grau marcada para o final do mês de outubro. Ele ingressou na universidade em 2018 e, desde então, demonstrou interesse na área de Endocrinologia. Em 2024, juntamente com um amigo de infância, Felipe Muller, 26, desenvolveram a Tia Bete utilizando inteligência artificial.

Mas quem é essa tia? Com um sugestivo nome e didático, o robô Tia Bete é um facilitador para pacientes diabéticos. "A minha ideia foi criar uma ferramenta que facilitasse a vida do diabético. Ao longo do dia tenho muitos momentos em que se eu tivesse um agente para me ajudar a contar os carboidratos, a tirar dúvidas sobre a doença, seria muito legal", esclarece Leonardo sobre como surgiu a ideia de criar a Tia Bete. "A inspiração não veio da solução que seria criar um robô e, sim, veio do problema: conviver com a diabetes ao longo de quase 20 anos". O graduando em Medicina é diabético desde os 7 anos de idade e consegue compreender de fato, como é a dor e as dificuldades dos pacientes. De forma alegórica e com bom-humor, Scandolara frisa que entre os diabéticos eles brincam que ao acordar, uma pessoa que não tem diabetes, vai passar o café e começar o seu dia; já o diabético, acorda pensando quantos gramas de carboidrato terá que ingerir no café da manhã. Dessa forma, "comer se torna um esforço", salienta Leonardo.

 

AMIZADE E JUNÇÃO DE ÁREAS EM PROL DA CIÊNCIA
Foi em uma noite no final do mês de junho de 2024, no dia 29, que Leo e o amigo de infância se debruçaram no projeto para colocar em prática a ideia. "Eu fui a São Paulo para um congresso e fiquei hospedado na casa do Felipe. Aí na sexta-feira ele disse: vamos reservar essa noite para desenvolver o robô utilizando a IA." Dessa forma, com o trabalho em conjunto de Scandolara e Felipe, o qual é formado em Nutrição e já trabalha com inteligência artificial, nasceu a Tia Bete. Leonardo destaca que naquela noite de sexta-feira, no apartamento do amigo, foi o momento de pensarem juntos e criarem a Tia Bete a partir de uma ideia que ele já tinha formulado em sua mente.

Com a utilização da inteligência artificial, a dupla inseriu no robô desenvolvido por eles as informações sobre a diabetes a partir de referências validadas, como o Manual de Contagem de Carboidratos da Sociedade Brasileira de Diabetes, seguindo as diretrizes e protocolos. "Nós depositamos os documentos validados no cérebro da IA e colocamos ela para rodar em um grupo de Whatsapp com 700 pessoas diabéticas, do qual eu participava", afirma Leonardo sobre como disponibilizaram o acesso da Tia Bete ao público. Segundo o estudante de medicina e futuro graduado, o acesso ao robô começou a crescer muito rápido. "Isso foi interessante, pois estava ajudando as pessoas", afirmou.


Acesso a Tia Bete via WhatsApp. Foto: Gustavo Miranda

 

No primeiro momento, os criadores da Tia Bete disponibilizaram um link no grupo de Whatsapp e posteriormente criaram o próprio robô com acesso direto, como se fosse um perfil humano no chat de mensagens instantâneas. Em um mundo onde as pessoas estão praticamente full-time conectadas no aplicativo de mensagens, disponibilizar via Whatsapp foi uma atitude democrática, para possibilitar o acesso a pessoas de diferentes classes sociais, graus de instrução e faixa etárias. "Nós criamos a Tia Bete e colocamos no Whatsapp onde todo mundo consegue acessar, pois muita gente teria dificuldade em baixar um app ou poderia não ter memória disponível no celular ou, ainda, não ter paciência para instalar um aplicativo", afirma Leonardo ao lembrar que o acesso via Whatsapp é uma forma de democratizar e fazer com que o projeto chegue a um maior número de pessoas.

Vale ressaltar que já existem aplicativos e ferramentas voltadas para o público diabético, os quais contam a quantidade de carboidratos e calculam a quantidade de insulina. Porém, a Tia Bete surge com o diferencial de utilizar uma tecnologia que já existe, no caso o Whatsapp, e utilizar a IA como facilitadora, integrando o robô ao programa de mensagens instantâneas.

À época da entrevista com Leonardo, a Tia Bete já contava com cerca de 20 mil usuários. E segundo seu criador, "a gente acredita que o rápido crescimento se deu por dois motivos. Primeiro, porque é gratuito. Segundo, por estar no Whatsapp."  Scandolara ressalta,  ainda que o acesso a Tia Bete fosse a um preço acessível, muita gente não teria um cartão de crédito ou não saberia como realizar o pagamento.

 

PREMIAÇÃO E RECONHECIMENTO


Da esquerda para a direita: Felipe Muller e Leonardo Scandolara com o troféu
do Prêmio Dr. Walter Minicucci. Foto: Arquivo pessoal.

 

Nos dias 2 e 3 de agosto, Leonardo e o amigo Felipe, participaram do G7 Summit, em São Paulo. Médicos referência no tratamento da diabetes no país participam do evento, juntamente com pacientes, comunidade médica, startups da área da saúde e demais interessados. Na programação do G7 Summit aconteceu o G7.Challenge, um desafio para inovações em diabetes. Na ocasião, o projeto Tia Bete conquistou o primeiro lugar e sagrou-se campeão do Prêmio Doutor Walter Miniccuci. 

Leonardo conta que, a partir da premiação, ele e o amigo foram conhecendo mais pessoas que trabalham com o uso da inteligência artificial na medicina. "Foi conversando com pessoas que conhecemos o pessoal do Inova HC, uma incubadora do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Nós apresentamos nosso projeto, eles gostaram e, ainda em agosto, fechamos uma parceria com eles." O Inova HC é um Núcleo de Inovação Tecnológica em Saúde do Hospital das Clínicas da Usp. "Nós acreditamos que a parceria com o Inova HC irá nos ajudar a crescer a Tia Bete, pois eles nos darão o suporte necessário para expandirmos o projeto", destaca Scandolara ao demonstrar entusiasmo com a parceria firmada.

 

UM FUTURO PROMISSOR
Sabe-se que no cenário atual, a inteligência artificial pode ser utilizada no contexto da educação, da medicina, dentre outros campos da ciência. Já existem exemplos nos quais o uso da IA pode salvar vidas e ser aliada na construção de um mundo mais democrático e que possibilite maior qualidade de vida. Ao mesmo tempo, é prudente que os países e órgãos estatais criem legislações para um efetivo controle na utilização da IA, juntamente com um processo de educação das pessoas no uso da mesma, possibilitando beneficiar-se de modo eficiente e efetivo à sociedade. 

No caso específico do emprego da IA para desenvolver e evoluir a Tia Bete, "temos a oportunidade de levar às pessoas o lado bom da inteligência artificial, dela ser um facilitador no dia a dia. A Tia Bete, em muitos casos, será o primeiro contato das pessoas com a IA", destaca Leonardo sobre a utilização responsável da inteligência artificial aliada à medicina. 

 

O INTERESSE E DEDICAÇÃO NÃO É DE HOJE
Ao longo da graduação em Medicina, Leonardo se interessou pela área de Endocrinologia. Ele participou da Liga de Médicos sobre diabetes durante 5 anos e também fez Iniciação Científica sobre a patologia. "Eu sempre tive na UFTM um espaço para poder experimentar e levar novas ideias. Dentre as minhas orientadoras, destaco a Profa. Dra. Maria de Fátima Borges, do Departamento de Endocrinologia, que sempre me apoiou e me deu liberdade. Por exemplo, na pandemia, eu propus fazermos um curso online e ela disse: vamos fazer!" Scandolara também destaca que quando demonstrou interesse na Iniciação Científica, a Profa. Maria de Fátima o orientou. 

 

 
Foto: Gustavo Miranda

 

Além da trajetória acima, o estudante também participou de atividades de extensão medindo glicemia em praças públicas de Uberaba e na produção de ovos de Páscoa sem açúcar. Para ele, foram essas vivências que o ajudaram a ter ideias de estudos e práticas sobre a diabetes. "Na medicina a gente tem a oportunidade de tornar a vida mais fácil para o outro e, observando o quanto é difícil, eu tenho consciência do impacto gerado em você ajudar um paciente diabético. Eu me sinto sendo ajudado e tenho bastante interesse em promover ações dessa natureza", afirma Leonardo.

De agora em diante, Leonardo, que a menos de um mês já terá colado grau, após anos de estudos e dedicação, especialmente em trabalhos sobre a diabetes, afirma que sua pretensão é seguir na dedicação em expandir e aperfeiçoar a Tia Bete. Ele também destaca que, futuramente, pretende realizar Residência Médica em Endocrinologia. "Eu sempre me vi sendo um médico endocrinologista. E agora também vejo, no futuro próximo, a Tia Bete ajudando muita gente, pois é um projeto que cresceu e que pode levar a democratização da tecnologia e da educação em diabetes para muitas pessoas", ressalta Leonardo Scandolara Júnior.

 


Foto: Gustavo Miranda




(Gustavo Miranda)







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