Publicado artigo sobre pesquisa que fez levantamento de 10 anos de dermatomicoses em Uberaba

O artigo intitulado “A 10-year survey of dermatomycoses in Uberaba, southeast Brazil” (Levantamento de 10 anos de dermatomicoses em Uberaba, sudeste do Brasil) foi publicado recentemente no periódico Acta Biologica Brasiliensia, uma publicação acadêmica colaborativa que conecta autores, editores, instituições acadêmicas e financiadores de pesquisa no objetivo comum de promover o acesso a pesquisa científica. 

Os autores do artigo são o biomédico e técnico do Laboratório de Pesquisa em Microbiologia – ICBN/UFTM, Diego Batista Carneiro de Oliveira, doutor em Medicina Tropical e Infectologia (Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical e Infectologia – UFTM), o médico especialista em Patologia Clínica e Medicina Tropical, Guilherme Ferreira de Oliveira, responsável técnico do laboratório Sabin de Uberaba e a aluna do 10º período da graduação de Medicina da UNIUBE, Ana Gabriela Magalhães Gomes de Oliveira.

Link do artigo na revista: https://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/acbioabras/article/view/7965

O estudo do artigo

Micoses superficiais ou dermatomicoses são infecções causadas por fungos que afetam a pele, pelos e unhas. Esse tipo de micose é muito frequente mundialmente, afetando cerca de 20 a 25% da população mundial pelo menos uma vez na vida, inclusive com essa prevalência também no Brasil.

O trabalho realizou um levantamento de amostragem de pacientes com micoses superficiais (dermatomicoses) durante os anos de 2012 e 2022 atendidos no Laboratório de Análises Clínicas Sabin de Uberaba. Essas amostras foram identificadas e foi feito um levantamento epidemiológico dos fungos mais prevalentes, separando-os por região do corpo mais afetada, gênero mais afetado, idade, entre outros.

Foram coletadas 2.325 amostras, das quais 1.327 (57,10%) foram positivas para fungos, a maioria de origem do gênero feminino, maioria de unhas (61,64%), seguido por pele dos pés (14,92%) e corpo (11,75%). A maioria foi de pacientes entre 31 e 40 anos de idade (18,23%) e o fungos mais frequentes foram das espécies Trichophyton rubrum (dermatófito - 41,22%), seguido por Candida parapsilosis (levedura - 41,22%) e Candida albicans (levedura - 7,69%).

De acordo com os autores do estudo, entender a epidemiologia dessa infecção, tão prevalente na população em geral, em Uberaba permite compará-la com outros levantamentos de regiões próximas e com outros estudos brasileiros. O conhecimento de quais são os fungos mais frequentes como causadores dessas infecções pode ajudar os dermatologistas, infectologistas e demais profissionais da área a tomarem as melhores decisões clínicas para combatê-las e os estimulam a solicitarem mais pedidos de identificação fúngica, além de ser possível construir medidas preventivas e educativas em relação a essas micoses. “Destaco que há uma carência de trabalhos como este no Brasil, inclusive na nossa região. Este tipo de levantamento é importantíssimo para fazer a identificação correta e precisa do fungo causador da infecção para que o médico possa receitar o medicamento correto (para que o tratamento seja eficaz e diminua a recidiva da infecção) e conhecer, epidemiologicamente, quais são os fungos mais frequentes. O que não ocorre na maioria das vezes. Pegar este estudo como exemplo para podermos abrir uma ‘porta’ para que o nosso HC-UFTM também faça um levantamento deste tipo, já que oferece um serviço de alta de demanda de dermatologia e infectologia e possui pesquisadores interessados em fazê-lo”, ressaltou Diego.

A pesquisa é fruto da parceria entre três instituições independentes: UNIUBE, Sabin e UFTM. “A coordenação e financiamento desse estudo foi do Laboratório Sabin. Há agradecimentos que não podem ficar de fora, à Janete Ana Ribeiro Vaz, Sandra Santana Costa Soares e Rafael Jácomo, do Laboratório Sabin, em Brasília, Distrito Federal, que aprovaram o financiamento para este estudo”, comentou Diego.

Estudos anteriores para comparativo

O técnico de laboratório da UFTM já participou de um trabalho semelhante publicado em 2014 (época em que era aluno de mestrado) por professores e outros alunos da Instituição, vinculados às pós-graduações da Universidade, com amostras de vários laboratórios de Uberaba (2009 a 2011), incluindo o Sabin (antigo Santa Lucília), outros laboratórios da cidade e a UFTM.

O estudo foi intitulado “Identification and antifungal susceptibility of fungi isolated from dermatomycoses”, orientado e coordenado pelo professor Anderson Assunção Andrade – Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia – ICBN/UFTM. Nele, os fungos mais frequentes identificados foram Candida parapsilosis (levedura - 24,1%) e Trichophyton rubrum (dermatófito - 17,1%). Os sítios mais isolados também foram as unhas (32,9%).

Além da identificação, este estudo também demonstrou a diferença de sensibilidade dos diferentes isolados clínicos frente aos principais antifúngicos usados no tratamento. “Importante salientar a diferença de prevalência entre os principais fungos encontrados neste estudo e no nosso recente, o que reforça ainda mais a importância de se conhecer o perfil epidemiológico dessas infecções ao longo do tempo, visto que de 2009 a 2022 observa-se essa diferença”, avaliou Diego.

Link do artigo: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23556501/

O pesquisador da UFTM relata que há outro trabalho do grupo do professor Anderson Andrade somente com amostras do serviço de Dermatologia UFTM entre 2018 e 2020, em parceria sob supervisão e colaboração da professora e médica dermatologista Meire Soares de Ataíde. “O professor Anderson também coordenou este estudo publicado em 2023, com o título The Role of Trypan Blue as a Conventional and Fluorescent Dye for the Diagnosis of Superficial Mycoses by Potassium Hydroxide (KOH) Testing - PubMed . Foram 111 amostras coletadas com 74 positivas para fungos (66,6%); maioria gênero feminino (68,9%); 55,4% de unhas (maioria), e 25,8% da pele dos pés; maioria eram fungos dermatófitos (49,5%), sendo 48,5% Trichophyton rubrum, seguido por fungos do gênero Candida (22,8%)” recordou.