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Descoberta Científica

Pesquisadores da UFTM, USP e de universidade Argentina redescobrem libélula, coletada pela última vez, há mais de 100 anos

Publicado: Quarta, 18 de Junho de 2025, 20h26

Já pensou em uma espécie de libélula, que há mais de 100 não tinha registros sobre sua existência na natureza e, agora em 2025, foi reencontrada na cidade de Uberaba? Foi isso que aconteceu. Os pesquisadores Felipe Henrique Datto-Liberato e Rodrigo Roucourt Cezário, ambos doutorandos na Universidade São Paulo (USP); Frederico Augusto de Atayde Lencioni; um dos maiores especialistas em libélulas do Brasil; Javier Muzón, pesquisador da Universidad Nacional de Avellaneda, na Argentina; e Vinícius Marques Lopez, pós-doutorando na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), formam a equipe responsável pela redescoberta da libélula Lestes quadristriatus na Reserva Particular do Patrimônio Natural Vale Encantado, localizada no município de Uberaba. 

 A espécie de Libélula Lestes quadristriatus havia sido registrada pela última vez no ano de 1909, pelo entomologista estadunidense Philip P. Calvert. Agora, na RPPN Vale Encantado, em Uberaba, os pesquisadores conseguiram registrar a presença da libélula no início do mês de junho. “Nossa equipe da UFTM vem realizando coletas sistemáticas na região do Vale Encantado há cerca de 3 anos. Entretanto, o encontro com a Lestes quadristriatus foi algo totalmente ocasional, não estávamos procurando por ela” frisa Vinícius Lopez sobre a redescoberta da libélula.

O pesquisador e pós-doutorando na UFTM, esclarece que no campo das Ciências Biológicas muitas descobertas acontecem com uma pitada de acaso e com um pouco de sorte. “Na primeira vez em que encontramos a espécie, estávamos realizando uma coleta de rotina em uma área que já conhecíamos bem; não estávamos buscando a espécie Lestes quadristriatus. Foi uma feliz coincidência”, ressalta Vinícius. A pesquisa faz parte de um projeto colaborativo entre a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Nacional de Avellaneda, na Argentina.

Para Vinícius Marques Lopez, mapear a presença da libélula é relevante no campo das Ciências Biológicas. Ao coletar a Lestes quadristriatus, surgiu a hipótese: seria que esta é uma nova espécie de libélula? Pergunta que, após os pesquisadores analisarem a espécie descrita há mais de 100, por Philip Calvert, e realizarem um trabalho minucioso, descobriram que realmente se tratava da Lestes quadristriatus.

A mesma espécie de libélula também já foi encontrada na cidade de Corinto, na região central do estado de Minas Gerais, o que possibilitou ampliar o conhecimento acerca da distribuição territorial da libélula Leste quadristriatus no estado mineiro.

Desafios e os próximos passos
A redescoberta da libélula Leste quadristriatus tem vários significados e importância para a ciência, pois cientificamente ela preenche uma lacuna de mais de 100 anos na história da entomologia brasileira. Visto a redescoberta ter sido um fato aleatório, em meio às tarefas e atividades do grupo de pesquisadores, ViníciusLopez salienta que o fato da  Leste quadristriatus ter sido redescoberta “é uma lembrança de que a ciência é feita de persistência, revisão de hipóteses e atenção aos detalhes”.

Dentre as dificuldades encontradas durante a pesquisa, a raridade extrema da espécie Leste quadristriatus é o primeiro desafio. “Em três anos de amostragem, nunca havíamos encontrado essa espécie antes”, destaca o pesquisador da UFTM. Outro obstáculo durante a pesquisa foi devido ao estado do espécime-tipo de 1909 - a amostra que serve de comparação com a amostra redescoberta, guardada nos Estados Unidos. “Ele estava bastante danificado, o que tornou a comparação morfológica um verdadeiro desafio técnico”, explica Vinícius.

Com a redescoberta da Leste quadristriatus e, com a fêmea da espécie sendo descrita formalmente pela primeira vez, os registros passam a integrar bancos de dados nacionais e internacionais de biodiversidade. “Os exemplares da libélula coletados foram devidamente depositados na coleção científica do Laboratório Lestes, aqui na UFTM, sob curadoria do Professor Rhainer Guillermo Ferreira, do Instituto de Ciências Exatas, Naturais e de Educação (ICENE)), além de outras coleções no Brasil”, informa o pesquisador Vinícius Lopez sobre os procedimentos após a redescoberta da Lestes quadristriatus na Reserva Particular do Patrimônio Natural Vale Encantado. 

O exemplar, isto é, a  espécime-tipo original, encontrada em 1909, permanece no Carnegie Museum, nos EUA. Os dados da libélula Leste quadristriatus também estão sendo incorporados a plataformas de biodiversidade, como o Sistema de Informação da Biodiversidade Brasileira (SiBBr)  e a Global Biodiversity Information Facility (GBIF). O Os pesquisadores envolvidos na pesquisa publicaram um artigo científico sobre a redescoberta da Leste quadristriatus em uma revista científica internacional, o que garante visibilidade global sobre o assunto.

A RPPN Vale Encantado e a necessidade de conservação
A RPPN Vale Encantado é a única reserva particular dentro da APA do Rio Uberaba. A área é importante para proteção da biodiversidade e dos recursos hídricos da região de Uberaba e entornos. Quanto ao aspecto conservacionista, é necessário destacar a importância de áreas como  a RPPN Vale Encantado, onde podem ser encontradas espécies raras e pouco conhecidas, especialmente na região da APA do Rio Uberaba. 

A ação predatória do homem é um percalço à preservação da espécie de libélula. A degradação de habitats aquáticos, como nascentes, riachos e áreas de vegetação primária, é uma grande ameaça para a Lestes quadristriatus. Vale destacar algumas importantes ações visando a conservação do habitat das libélulas. Dentre elas estão a preservação e recuperação de áreas naturais, como a própria RPPN Vale Encantado, a manutenção das Áreas de Preservação Permanente (APPs) ao redor de corpos d'água, o controle de poluição e assoreamento de córregos. Além das já citadas, o pesquisador da UFTM,  destaca que é necessário evitar a drenagem de áreas úmidas, o que infelizmente é muito comum na região de Uberaba; a necessidade de promover educação ambiental para valorizar a biodiversidade local e implementar um investimento contínuo em pesquisa, pois nas palavras do pesquisador “só protegemos aquilo que conhecemos”.

Ainda sobre a preservação ambiental e ações de conservação dos ecossistemas da região de Uberaba, vale destacar as parcerias da UFTM com o Ministério Público de Minas Gerais e com a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG).

 

(Gustavo Miranda)

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